Um grande passo - Nossa reflexão sobre a história da Umbanda

Este mês comemoramos não apenas o aniversário da Umbanda, mas a oficialização de uma religião genuinamente brasileira com raízes africanas.

Há 103 anos lutamos por uma bandeira com três pilares: amor, caridade e humildade. Engana-se quem pensa que nós, umbandistas, trabalhamos com oferendas de animais, rituais de sacrifícios e muitas outras "lendas" que rondam a cabeça de pessoas que falam sem se preocupar em saber nossos fundamentos.

Com muito orgulho, digo em nome de todos do Templo de Luz Voz Maria, que nossa Umbanda junto com o plano espiritual estão em constante evolução. Em nossos trabalhos não utilizamos bebidas alcoólicas e fumos, as entidades que trabalham com os aparelhos da casa também tiveram que evoluir e mudar os métodos de fluidificação de energia.

Essa evolução serve para mostrar que nada neste mundo, seja material ou espiritual, está estagnado. E as religiões também entram neste processo buscando sempre se adequar à evolução do mundo. Por exemplo: hoje, com tanta campanha contra o tabagismo, não seria adequado os médiuns  terem que se submeter ao cigarro para fluidificar uma roupa de uma criança enferma.

Não vou dizer que está errado, afinal a nossa Umbanda foi fundada com esses ensinamentos: o pito do Preto Velho, o charuto dos Guardiões e a cigarrilha dos Cigano. Mas a evolução faz parte do processo de todos os médiuns e entidades e não precisamos manter os primeiros princípios da nossa religião para alcançar o que nosso Pai Oxalá nos pede, que é fazer o bem com amor e humildade.

Certo dia, em uma gira de baiano, um dos médiuns da casa perguntou a baiana Januária como funcionava os trabalhos das entidades já que a Casa não permitia o fumo e bebidas nas giras. Com aquele sotaque gostoso de escutar ela nos explicou:

"Quando a mentora da casa, a preta velha Vó Maria, nos convidou para iniciar um novo grupo no qual trabalharíamos de uma forma diferente da maioria dos terreiros de Umbanda, encaramos como um processo de evolução. Não vou dizer que de uma dia para outro já estávamos executando esses novos fundamentos, foi um processo de aprendizado para todos nós, encarnados e desencarnados. Hoje sei que não é necessário o fumo ou a bebida para fluidificar a energia que passamos para vocês, podemos usar a água, as ervas, a vela, o defumador. O que mudou foram as ferramentas de trabalho, mas os benefícios continuam os mesmos".

Uma bela lição, não é? Então porque não mudarmos alguns conceitos que nos deixam presos a determinadas regras e paradigmas. A história da Umbanda iniciou cheia de conquistas e vitórias, graças ao Caboclo das Sete Encruzilhadas  há mais de 100 anos com o médium Zélio Fernandino de Moraes, na época com apenas 17 anos.

Texto: Paloma Cremonesi e Rodrigo Goés.